COP30: cientistas alertam que mundo tem só quatro anos para evitar ultrapassar 1,5°C
ONU aponta falhas de segurança na COP30 e cobra plano do Brasil
Um grupo de cientistas reconhecidos internacionalmente divulgou nesta sexta-feira (14) um alerta duro sobre o estado das negociações da COP30.
Segundo eles, as emissões globais de CO2 devem subir 1,1% em 2025, quando deveriam estar em queda acelerada.
Mantido o ritmo atual, afirmam, o mundo tem apenas quatro anos antes de esgotar o orçamento de carbono compatível com 1,5°C.
O limite é tratado pela comunidade científica como o patamar mais seguro para impedir impactos ainda mais severos da crise climática.
O texto, apresentado no Pavilhão de Ciências Planetárias (iniciativa inédita na história das COPs), aponta que grandes economias já consumiram quase todo o orçamento de carbono, enquanto comunidades vulneráveis seguem expostas aos impactos mais severos.
Os pesquisadores lembram que cada 0,1°C adicional amplia riscos de ondas de calor extremas, tempestades intensas, incêndios e perdas econômicas, e defendem que adaptação precisa ganhar centralidade na COP30.
A nota afirma que a ciência é clara ao exigir reduções de pelo menos 5% ao ano, muito acima dos compromissos atuais, que somam 5% em uma década.
"Alcançar emissões líquidas zero globais exige uma mudança radical de mentalidade e governança em todos os países, bem como, sobretudo, a expansão da energia renovável, a eliminação gradual de todos os combustíveis fósseis e o fim do desmatamento", diz a carta.
Eles pedem que a COP30 entregue um roteiro concreto para o fim dos fósseis, citando que há movimento político em curso, com apoios públicos de diversos países.
A declaração também critica tentativas de remover referências científicas dos textos negociados, classificando isso como parte de estratégias de atraso.
Assinam o documento nomes como Carlos Nobre, Thelma Krug, Paulo Artaxo, Marina Hirota, Johan Rockström, Chris Field, Fatima Denton, Piers Forster e Ricarda Winkelmann.
Flotilha indígena chega a Belém (PA) neste domingo (9), às vésperas da COP30, trazendo representantes de diversos países da América Latina para a conferência do clima da ONU. Na lateral do barco, uma faixa com os dizeres “Amazônia livre de petróleo”.
REUTERS/Adriano Machado
Cobrança da ONU por segurança
Na quinta (13), a ONU cobrou ao governo brasileiro uma reação rápida para solucionar falhas de segurança e problemas estruturais que têm afetado a COP30, em Belém.
A demanda foi feita em uma carta enviada pela Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC) a Rui Costa, ministro da Casa Civil (que coordena as atividades relacionadas à cúpula), e a André Corrêa do Lago, presidente da conferência.
O envio da carta foi divulgado pela agência Bloomberg e confirmado posteriormente pela GloboNews.
No documento, o secretário-executivo Simon Stiell relata que a tentativa de invasão ocorrida na noite de terça-feira, quando um grupo estimado em 150 ativistas entrou no pavilhão, deixou feridos, causou danos e expôs "brechas graves" no controle do evento.
Ele destaca que o efetivo policial estava no local, mas não conteve a ação, e menciona que, na manhã seguinte, novos protestos ocorreram dentro de uma área que deveria ser restrita.
"Isso contraria o plano de segurança", diz ele na carta.
O texto descreve ainda uma série de vulnerabilidades, entre elas:
portas sem monitoramento,
contingente de segurança abaixo do necessário
e ausência de garantias de resposta rápida das forças federais e estaduais.
A ONU também chama atenção para problemas de infraestrutura registrados nos últimos dias, como:
calor excessivo em pavilhões,
falhas de climatização,
infiltrações provocadas pelas chuvas
e riscos associados a água próxima de instalações elétricas.
"Diversas delegações expressaram séria preocupação com relação às más condições dos escritórios disponibilizados", diz o texto.
"Agradeceria se fosse possível elaborar um plano, a ser comunicado às delegações, sobre como as condições nos escritórios das delegações serão melhoradas até o final do dia. A transparência em nosso processo é de suma importância", concluiu Stiell.
Entrada do centro de imprensa da COP30
AP Photo/Eraldo Peres
Resposta da Casa Civil
Ao g1, a Casa Civil da Presidência da República afirmou que “todas as solicitações da ONU têm sido atendidas” após o protesto que marcou o segundo dia da COP30.
O órgão, que coordena as atividades relacionadas à cúpula, afirmou que não esteve envolvido "na tomada de decisão das forças de segurança pública referente aos protestos” e que “a segurança interna da Blue Zone está a cargo do Departamento das Nações Unidas para Segurança e Proteção (UNDSS, na sigla em inglês).
Segundo o governo, representantes das esferas federal e estadual se reuniram na quarta-feira, 12, com o UNDSS para “a reavaliação dos meios e quantitativos policiais para preservação dos perímetros de segurança Laranja e Vermelha da COP30”, que, de acordo com a nota, “também foram ampliados”.
A Casa Civil informou ainda que houve “ampliação do espaço intermediário entre as Zonas Azul e Verde para aumentar a prevenção de incidentes semelhantes”, além de atuação conjunta da Força Nacional e da Polícia Federal nesse trecho.
A nota também cita o “fortalecimento do perímetro com instalação de gradis, barreiras metálicas e estruturas de contenção adicionais em pontos vulneráveis”.
Sobre o conforto térmico, a Casa Civil diz que houve “instalação de novos aparelhos de ar-condicionado nas tendas” e envio de “unidades adicionais do modelo sprint nas salas com falhas de climatização”.
A pasta afirmou ainda que “não houve alagamento do local do evento, e sim ocorrências localizadas, como goteiras”.
Segundo o governo, os vazamentos registrados no Media Center e no Posto de Saúde 2 foram causados “por rompimento de calhas”, que já teriam sido “prontamente reparados, com substituição e vedação das estruturas”.
A Casa Civil informou que todas as questões operacionais vêm sendo tratadas “diariamente nos pontos de controle realizados em conjunto com a UNFCCC”, o que, segundo a nota, garante “a correção contínua de temas inerentes a um evento dessa dimensão”.
Como foi o protesto
O incidente ocorreu por volta das 19h20 na terça, logo depois da entrevista coletiva que apresentou o balanço do dia.
Um grupo com dezenas de pessoas tentou invadir a blue zone. Os manifestantes passaram pelas portas do pavilhão e tentaram avançar rumo aos espaços onde estavam os participantes da conferência. Eles foram impedidos e acabaram entrando em confronto com os seguranças da COP.
Um porta-voz da ONU para Mudanças Climáticas informou ao g1 que equipes de segurança brasileiras e da ONU seguiram todos os protocolos estabelecidos e conseguiram conter a situação. As autoridades dos dois órgãos investigam o caso.
"O local está totalmente seguro, e as negociações da conferência continuam normalmente", afirmou o porta-voz da ONU. "O incidente causou ferimentos leves em dois seguranças e pequenos danos à estrutura do local".
A pedido da ONU, a Polícia Federal vai instaurar inquérito para investigar a invasão. Imagens das câmeras externas e internas da blue zone foram requisitadas e serão analisadas.
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Manifestantes invadem área da COP30
Ronaldo Brito/Globo Amapá
Vídeos do protesto mostram que a tentativa de invasão começou com a aproximação de um grupo que usava trajes indígenas. Eles passaram pelos portões da entrada principal e pela área das máquinas de raio-x. Eles se espalharam pelo saguão, perto da área de credenciamento.
Logo na sequência, outros manifestantes carregando bandeiras de coletivos estudantis e faixas de protesto contra a exploração de petróleo chegaram ao espaço da blue zone e também foram contidos pelos seguranças.
Protesto na COP
Anderson Coelho/Reuters
Após correria e bloqueio interno, os manifestantes foram retirados do espaço e as pessoas com credenciais puderam deixar o pavilhão. A segurança foi reforçada com o deslocamento de carros da Polícia Militar. Não há informações de detidos.
O secretário extraordinário da COP30, Valter Correia, afirmou que a organização da conferência estava tomando todas as providências sobre o tema.
"A ONU tem todos os seus protocolos de segurança. (...) Nós fazemos os pactos pacíficos de convivência com os movimentos e eles (segurança da ONU) estão aqui para garantir a segurança", afirmou.
Após a confusão, autoridades federais e da ONU se reuniram para discutir o incidente. A entrada de trabalhadores noturnos no pavilhão foi adiada.
Após a confusão, autoridades federais e da ONU se reuniram para discutir o incidente. A entrada de trabalhadores noturnos no pavilhão foi adiada.
Barbara Carvalho/GloboNews
Marcha Saúde e Clima nega relação
Nesta tarde, o parque onde ocorre a COP foi o destino final da Marcha Global Saúde e Clima. A organização da Marcha informou ao g1 Pará que cerca de 3 mil pessoas participaram da caminhada em um percurso de 1,5 km.
"As organizações que integram a Marcha Global Saúde e Clima vêm a público esclarecer que não têm qualquer relação com o episódio ocorrido na entrada da Zona Azul da COP30 após o encerramento da marcha", informaram os organizadores do evento.
A Marcha saiu da Avenida Duque de Caxias até a sede da COP30. A manifestação envolveu médicos, enfermeiros, estudantes, lideranças indígenas e representantes de movimentos sociais pedindo políticas de saúde pública.
Homem ferido na testa na COP30.
Lizandra Rodrigues
Seguranças isolam área na Blue Zone.
Paula Paiva PauloFONTE: https://g1.globo.com/meio-ambiente/cop-30/noticia/2025/11/14/cop30-cientistas-alertam-ultrapassar-15c.ghtml