Território quilombola Jauary dá exemplo de preservação ambiental protegendo nascentes e floresta

  • 03/06/2025
(Foto: Reprodução)
No território são realizados até seis tipos de roçado no mesmo espaço, sem derrubar grandes áreas de mata – prática que garante segurança alimentar e equilíbrio ecológico. Território quilombola Jauary, no município de Oriximiná Divulgação Em meio à crise climática decorrente da ação do homem na natureza, um bom exemplo de preservação ambiental vem do Quilombo Jauary, território coletivo localizado no município de Oriximiná, oeste do Pará, que conta com 13 comunidades e uma das primeiras titulações definitivas de terras quilombolas do Brasil. ✅ Clique aqui e siga o canal g1 Santarém e Região no WhatsApp A história de resistência da comunidade é representada por Daniel Souza, 67 anos, fundador da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), liderança local e defensor incansável do direito à terra e à floresta. Sua trajetória começa com os relatos do avô sobre a escravidão e atravessa décadas de perseguição, lutas políticas e vitórias históricas – como a conquista do título coletivo em 1995. Refúgios de ontem e de amanhã Os territórios quilombolas foram criados como refúgios frente à escravidão, e continuam hoje como refúgios da vida: preservam floresta, cultura e modos de vida sustentáveis que são estratégicos diante das mudanças climáticas. O Quilombo Jauary, território de mais de 220 mil hectares é mostra disso. Dilma Salgado, da comunidade Boa Vista do Cuminã e Júlia Maria Guedes, da Comunidade Espírito Santo, preservam saberes sobre plantas medicinais Divulgação Nas 13 comunidades que integram o território quilombola Jauary, os moradores protegem nascentes, praticam roçados rotativos e mantém viva a relação ancestral com a floresta. No território são realizados até seis tipos de roçado no mesmo espaço, sem derrubar grandes áreas de mata – prática que garante segurança alimentar e equilíbrio ecológico. Localizado em uma área de floresta densa, rica em biodiversidade e produtos florestais que sustentam modos de vida tradicionais, no território é possível encontrar: Castanha-do-Pará em abundância (em anos de safra); Cumaru - árvore aromática usada para cosméticos e óleos; Breu - resina usada para calafetar barcos e na medicina tradicional; Seringueira (látex natural) - ainda explorada artesanalmente. Com a realização de cinco a seis tipos de roçado em áreas rotativas, prática que evita o desmatamento e mantém a floresta viva, os comunitários de Jauary são reconhecidos como guardiões da biodiversidade. A proteção de nascentes e o manejo tradicional da terra fazem parte do cotidiano nas 13 comunidades. Território quilombola Jauary Divulgação Entretanto, a cobiça sobre essas riquezas coloca os quilombolas sob constante pressão de projetos externos. Há décadas o território sofre: Tentativas de implantação de quatro projetos de hidrelétricas, ainda ativos em planos de governo; Invasões de garimpeiros desde os anos 1930, segundo relatos orais, com presença ainda hoje; Perseguições e ameaças a lideranças devido à luta pelo título coletivo de terras, conquistado em 1995. Daniel Souza relata que o território é muito bonito, muito rico e que a floresta está viva, mas que a presença das ameaças causa medo, insegurança e um sentimento constante de perseguição. Ainda assim, o povo resiste. Daniel Souza, fundador da CONAQ Divulgação "A gente se assusta quando percebe que estão nos perseguindo de novo. As grandes invasões que há por parte de garimpeiros e de outros que vêm, apesar do território ser demarcado e da gente manter isso em pé há 200 anos, tem esses grandes desafios pela frente, que não querem permitir que a gente possa mantê-la dessa forma. O que pra nós é uma coisa positiva porque foi ela que nos sustentou durante esses 200 anos, e com os indígenas nós aprendemos muito a defender a floresta e pretendemos continuar resistindo", disse Daniel Souza. Justiça climática e futuro comum O território quilombola Jauary é mais do que um espaço de memória: é um exemplo concreto de que comunidades tradicionais são guardiãs do meio ambiente e devem estar no centro do debate sobre justiça climática. Ao proteger seus territórios, os quilombolas oferecem soluções reais e enraizadas para a crise ambiental que afeta o planeta. Garantir essas terras é um ato de reparação histórica e também uma estratégia de sobrevivência coletiva frente à nova diáspora provocada pelo colapso climático. Conaq Embora tenha o dia 12 de maio de 1996 como data oficial de sua fundação, a história da Conaq começou seis meses antes, com a criação da Comissão Nacional Provisória das Comunidades Negras Rurais Quilombolas durante o “I Encontro Nacional das Comunidades Negras Rurais Quilombolas”, realizado entre os dias 17 e 20 de novembro de 1995. A Comissão surgiu com o propósito de mobilizar o conjunto das comunidades do país, reforçando as pautas quilombolas, que estavam ganhando cada vez mais destaque e força no país. A estrutura da Comissão foi pensada com base nas 412 comunidades quilombolas existentes no país à época, com destaque para o longo histórico de articulação e mobilização das comunidades do Maranhão, Pará e Bahia. De acordo com dados do Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população quilombola no Brasil hoje é de 1.327.802 pessoas – 0,65% da população total do país - e há 473.970 domicílios com pelo menos uma pessoa quilombola espalhados por 1.696 municípios brasileiros. Os quilombolas foram reconhecidos como integrantes dos povos e comunidades tradicionais do país pela Constituição de 1988. Um ano depois de sua criação em 1995, a Comissão Provisória transformou-se na Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), que atua como movimento social no reconhecimento legal de direitos específicos das comunidades quilombolas e impulsionando políticas para garantir seus direitos. Ao mesmo tempo que olha para o futuro, o movimento busca ressaltar a história de resistência dos quilombos e a emergência de políticas como fruto de suas lutas. Essa resistência é vista como um processo histórico e contínuo, fundamental para a sobrevivência atual. Em 2000, foi realizado o II Encontro Nacional e este foi fundamental para a afirmação da Conaq perante as comunidades e para sua representação nesse espaço. A partir daí, diversos estados se organizaram, consolidando e unindo os movimentos nas regiões e nos estados. VÍDEOS: Mais vistos do g1 Santarém e Região

FONTE: https://g1.globo.com/pa/santarem-regiao/noticia/2025/06/03/territorio-quilombola-jauary-da-exemplo-de-preservacao-ambiental-protegendo-nascentes-e-floresta.ghtml


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